O Donbass está se afastando de uma Ucrânia agonizante



04 de março de 2017 – The Saker, tradução de btpsilveira

Na paisagem política ucraniana continuam a acontecer mudanças tectônicas. Depois da imposição de um bloqueio total contra a Novorussia pelos ucronazistas, a Rússia declarou que a partir de agora reconhecerá os documentos oficiais emitidos pelas autoridades da DNR e LNR (República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk – NT). Nesta semana as autoridades da Novorussia nacionalizaram as principais fábricas do Donbass. 

Além disso, os novorussos asseveraram que desde que as autoridades ucranianas aparentemente não desejam comprar mais o carvão e antracite (variedade de carvão mineral mais compacto e duro e de combustão mais lenta. Contém muito pouco ou nenhum betume - NT) produzidos no Donbass, eles a partir de agora exportarão a produção para a Rússia. E apenas para estarem seguros de cobrir todos os flancos, os novorussos afirmaram ainda que a partir desta data apenas o rublo circulará nas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.
Para não deixar nada para trás, os ucronazistas também tomaram uma medida altamente significante: o Primeiro Ministro ucraniano declarou que pensa que as forças irregulares atualmente empregadas no bloqueio podem ser consideradas como guardas oficiais de fronteira (imediatamente depois de nomeados “guardas de fronteira” as forças irregulares explicaram que para batizar seu primeiro posto de fronteira, escolheram o nome “Rouxinol”, em honra do Nachtigall battalion da Abwehr (agência de inteligência do exército da Alemanha de 1925 a 1944 – NT) nazista.
Vamos resumir:
1 – Os ucronazistas fecharam completamente a fronteira não oficial com a Novorussia

2 – a Rússia reconhece os documentos emitidos pela Novorussia

3 – DNR e LNR nacionalizaram a indústria ucraniana no Donbass

4 – Os ucronazistas declaram que a linha de contato agora é considerada como fronteira

5 – Os novorussos declaram que o Rublo Russo é a única moeda legal na Novorussia

6 – Os novorussos exportarão toda a sua produção de carvão/antracite para a Rússia

7 – Todas as fábricas na Novorussia cessarão o pagamento de taxas para Kiev

Não sei quanto a vocês, mas para mim parece claro que as entidades DNR e LNR estão cortando seus últimos laços com a Ucrânia e a Junta em Kiev aparenta estar alinhada a este plano.
Na realidade é muito mais complicado que isso. Existe uma guerra encoberta entre os oligarcas ucranianos Rinat Akhmetov, Igor Kolomoiskii e o Presidente Poroshenko ao lado de outra guerra nem tão encoberta assim entre a oposição ucronazista e Poroshenko. Muitas questões ainda estão em aberto, incluindo como e se os novorussos venderão sua produção de carvão e antracite. Além disso, se os produtos serão vendidos diretamente para a Rússia (que não precisa deles) ou através da Rússia (talvez ocultando sua origem real). Esta situação leva a outra questão: será que os bancos russos quererão ou serão capazes de ajudar os novorussos? As somas de dinheiro envolvidas na questão são altíssimas e há muitos interesses excludentes competindo uns contra os outros. Mas não penso ainda neste nível – o que é mais importante para mim é o grande quadro geral, e este aponta para o seguinte: “adeus, Ucrânia”.
Pode-se julgar a seriedade desses desenvolvimentos pelo esforço hercúleo feito pela imprensa ocidental para não noticiar nada disso. Mesmo o Secretário de Estado da Inglaterra para Relações Exteriores, Boris Johnson, que esteve em Kiev ontem, estava explorando apenas os próximos festivais Eurovisão e não os acontecimentos dramáticos atualmente em curso no sudeste do país.
No contexto ucraniano a expressão “nunca diga nunca” provavelmente é ainda mais importante que o normal, mas quero dizer que se o que penso que está acontecendo realmente está, quer dizer, se o Donbass agora está de-facto cortando seus últimos laços com a Ucrânia e integrando-se política e economicamente com a Rússia, e se realmente a junta em Kiev não foi capaz de impedir os voluntários Nazistas de disparar a crise com seu bloqueio, então isso significa potencialmente coisas muito importantes:
1 – os ucronazistas desistiram totalmente de reconquistar a Novorussia

2 – O desmantelamento da Ucrânia oriental começou

O Bloqueio do Donbass foi decidido por um grupo relativamente pequeno de líderes nacionalistas que não deram bola nem receberam autorização da junta em Kiev para suas ações. Além disso, a junta em Kiev nunca apoiou ou rejeitou o movimento. Ainda mais espantoso, a junta jamais mandou nenhum tipo de forças da polícia/exército/segurança para retomar a controle da situação. Houve um grupo de pessoas que, armados com bastões de basebol, tentaram remover os loucos ucronazistas da pista, mas foram rapidamente repelidos. Tenha em mente que há dezenas de milhares de soldados e policiais instalados nas imediações das unidades de voluntários nazistas, mas ninguém, absolutamente ninguém fez qualquer coisa para restaurar a lei e a ordem.
Claro que o conceito de “lei e ordem” é pouco significativo em um país ocupado por um regime ele mesmo totalmente ilegal. Além disso, “lei e ordem” nada significam em um país onde se pode – normalmente com a ajuda de uma gang de bandidos ou de marginais armados com Kalashnikovs – impor o próprio direito. Esqueça “Europa Central”. Pense em “Somália” e você estará mais perto da verdade.
A Ucrânia hoje não passa de um estado fracassado, política e economicamente. Como todo estado falido, a Ucrânia está repleta de gangues armadas e mesmo de forças armadas oficiais, mas nenhuma dessas forças parece com o tipo de exército moderno e civilizado de que você necessitaria para bater os novorussos que, por sua vez, longe de ser um estado fracassado, é um jovem estado que modernizou completamente suas forças armadas. A diferença entre as forças armadas ucranianas e novorussas não é resultado apenas da ajuda da Rússia, embora esta tenha realmente desempenhado um papel de importância, mas o fato de que para os novorussos ter uma força armada capaz de lutar bem sempre foi uma questão de sobrevivência, desde o dia 01, e não importa que a junta nunca tenha sido uma prioridade, simplesmente porque nunca houve uma ameaça militar contra o poder da junta. Contadores de feijão certamente me dirão que as forças ucranianas são duas ou três vezes maiores, o que é bem verdade. Mas isso é irrelevante. O que importa é se eles podem montar operações modernas de armas combinadas. Isso é uma coisa que o exército ucraniano não parece ser capaz de fazer.
O que estamos vendo neste momento não é apenas um exército ucraniano que parece ter desistido de retomar o Donbass, mas parece que desistiu também da noção de manter a unidade do país. Neste instante, tem a ver apenas com o Donbass, mas logo outras regiões farão o mesmo, especialmente no Sul (Odessa, Nikolaev, Mariupol), que seriam ricas e prósperas por si mesmas, sem a necessidade de serem governadas por neonazistas. Já existe até alguns movimentos separatistas na Ucrânia ocidental, que querem se livrar do peso de um “pseudo estado ucraniano” e construir um “Estado Ucraniano Puro” no único lugar onde teria raízes históricas reais: na fronteira com a Polônia.
Tudo isso leva à questão do futuro de Poroshenko e neste assunto o seu palpite é tão bom quanto o meu. A única coisa que o manteve no poder até agora é o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, mas com as crises (no plural mesmo) que estão pipocando na administração Trump e com a incerteza política que paira sobre a Europa, não se sabe por quanto tempo ainda Poroshenkpo poderá usar seus mentores ocidentais como base para sua manutenção no poder. Cedo ou tarde, alguém, em algum lugar da Ucrânia (meu palpite é que será em Odessa) vai entender que a configuração local de poder é mais importante para ele/ela que seja lá o que for que os ocidentais tenham a dizer. Mais uma vez, tenham o exemplo da Somália em mente: por algum tempo as potências ocidentais também exerceram por lá uma enorme influência, mas somente até que seu poder fosse sucessivamente desafiado. Daí todos os ocidentais declararam vitória. E fugiram.
Não é necessário dizer que os acordos de Minsk estão mais longe de serem implementados que nunca. Para os AngloSionistas basta culpar a Rússia por tudo para justificar a situação. Que vai continuar a piorar até que finalmente a Ucrânia imploda a tal ponto que a real negociação então será a seguinte: “quem vai limpar (e pagar por) esta barafunda?” Neste ponto, a Rússia provavelmente afirmará que o Donbass é de sua responsabilidade primária e deixará o resto da bagunça para os europeus que, ao contrário dos (norte)americanos, não terão opção a não ser limpar. E pagar. Mas isto ainda está lá no fim do túnel do futuro. Neste momento, a pergunta é a seguinte: quanto tempo ainda durará a agonia do regime nazista da Ucrânia?
Ontem, Alexander Zakharchenko previu que o estado ucraniano colapsará em cerca de 60 dias. Talvez. Meu palpite e sentimento pessoal é que pode levar muito mais tempo, especialmente considerando que estamos falando de um país enorme. Temos ainda que levar em consideração um possível ataque dos ucronazistas contra a Novorussia por nenhuma outra razão a não ser uma expressão de cegueira e ódio. Talvez aconteça que neste caso o objetivo do novorussos seja libertar partes de Lugansk e Donetsk que ainda estão em mãos dos nazistas. Não será fácil – os nazistas tiveram muitos meses para fortificar suas posições – mas espero que os combatentes das duas jovens repúblicas sejam capazes de fazê-lo. Neste ponto o ocidente com certeza culpará estridentemente a Rússia por tudo e todos. Mas qual a novidade?
Independentemente do tempo que durará a agonia, não há mais dúvidas que o que começa agora é irreversível. Na realidade o que espanta mesmo é o tempo que foi necessário para se chegar até esta fase dos acontecimentos. Há muitos meses já tínhamos indicações e sinais sutis de que as coisas não estavam bem para os lados da Ucrânia neonazista, mas com a separação de facto do Donbass e sua gradual integração com a economia russa, estamos testemunhando uma nova e mais delicada fase do processo de desintegração da Ucrânia.
The Saker

Em Tempo: Hoje Alexander Zakharchenko anunciou um bloqueio total da Ucrânia pelo Donbass. O resultado prático disso será que a Novorussia cessará completamente o pagamento de taxas para a Ucrânia ocupada pelos neonazistas.
http://thesaker.is/the-donbass-is-breaking-away-from-an-agonizing-ukraine/

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